Os Poetas da Verde
Ascânio Lopes – O Poeta
Ascânio Lopes Quatorzevoltas nasceu no dia 11 de maio de 1906, em Ubá (MG), na Rua São José. Seus pais eram Antônio Lopes Quatorzevoltas e Maria Inês Quatorzevoltas.
Ascânio entregue para adoção
Segundo informes de Francisco Inácio Peixoto, aos 5 meses, foi levado para Cataguases e criado pelo tabelião Cornélio Vieira de Freitas e sua senhora Dulcelina Cruz, que o adotaram a pedido dos pais. Havia um grande mistério em torno do motivo dessa transferência de Ascânio ainda um bebê para Cataguases, que foi esclarecido recentemente. Soube por sua sobrinha Regina Quatorzevoltas que a mãe de Ascânio ficou tuberculosa e por isso seu pai resolveu afastar os filhos de Ubá, entregando-os a famílias de parentes e amigos. Assim pode-se entender hoje como e por que ocorreu esse fato.
Jornal O Eco
No período de 1922 a 1924, Ascânio estudou no Ginásio de Cataguases e completou o curso. No ano de 1923, em junho, foi editor do jornal O Eco.
Faculdade de Direito
Prestou exame final, em 1925, no Colégio Mineiro de Belo Horizonte, sendo aprovado. No dia 28 de abril, conseguiu aprovação nos vestibulares de 2ª época na Faculdade de Direito. Iniciou o curso de Direito aos 19 anos.
A Revista Verde
Unindo-se a um grupo de amigos e estudantes do Ginásio Municipal de Cataguases, quando aqui morava, Ascânio ajudou a lançar, em 1927, a revista Verde, que se tornou uma importante vertente do Modernismo no interior de MG.
Funcionário Público
Em 1928, matriculou-se no 4° ano de Direito em Belo Horizonte. Como funcionário público estadual (3° oficial, no Conselho Superior de Ensino), fez requerimento para estudar gratuitamente e conseguiu. Chegou a ocupar o cargo de secretário do Conselho Superior de Ensino, na capital mineira, como noticiou o jornal Cataguases n° 686, de 12.11.1928, na página 1.
Obras
Em vida, publicou um único livro – Poemas cronológicos – em 1928, em conjunto com Enrique de Resende e Rosário Fusco.
Saúde fragilizada
Quando morava em Belo Horizonte, ficou tuberculoso, e foi internado no Sanatório Cavalcanti, na Av. Carandaí, 938, atrás da Igreja dos Sagrados Corações, segundo informação de Pedro Nava, no seu livro Beira-Mar. (NAVA, 1978, p.235).
No seu romance Rola-Moça, João Alphonsus relatou visita que fez ao doente. (ALPHONSUS, 1938, p.62-64)
Alquebrado pela doença, e já sem esperanças de cura, Ascânio ‘fugiu’ para Cataguases, aonde chegou, em maio de 1928, segundo o Jornal Cataguases de 13 de maio daquele ano.
Nos deixou aos 23 anos
Morreu no dia 10 de janeiro de 1929 (com apenas 23 anos), e a notícia foi publicada no Cataguases de 13 de janeiro. Também houve registros nos dias 14, 15, 16 e 18 do mesmo mês e ano.
Homenagem dos Amigos da Faculdade
No dia 25 de dezembro, os colegas de Faculdade, por proposta de José Maria Alkmim, colocaram no seu túmulo, em Cataguases, uma placa de bronze, com os dizeres: “A Ascânio Lopes a saudade de seus colegas. Vis virtute victs. (A força vencida pela virtude)”
Suas obras
Em 1967, no dia 07 de setembro, foi lançado na cidade de Cataguases o livro de Delson Gonçalves Ferreira intitulado Ascânio Lopes – vida e poesia, que levou a público os versos de Ascânio, demonstrando a importância de sua obra. Com o conhecimento de seus poemas, viu-se que Ascânio Lopes ocupava, dentro do grupo Verde e na produção modernista mineira e brasileira, um lugar especial. Sua timidez concentrada, seu amadurecimento precoce e, sobretudo, uma obra poética já pronta dentro do ciclo da revista, como ficou demonstrado com a publicação do livro citado, - tudo isso leva-o a se destacar dos demais.
Revista Verde
Na série da Revista Verde, colaborou em todos os números, inclusive no último que falava da sua morte. Contudo, na editoração, parece que opinou mais no exemplar de estreia, pois, já residindo, estudando e trabalhando em Belo Horizonte, teve poucas oportunidades de estar presente nos momentos de preparação e montagem do material na gráfica. Mas, mesmo de longe, por meio dos contatos na capital mineira com os membros da Revista (principalmente Carlos Drummond), com os antigos companheiros que lá estudavam (Guilhermino, Francisco Inácio e Martins Mendes), da correspondência com os que ficaram em Cataguases (Fusco e Enrique) e das viagens a Cataguases, foi elemento importante na definição dos rumos que a revista tomou ao longo do tempo.
Visitas em Cataguases
Em 1927, Ascânio já não estava residindo em Cataguases. À cidade vinha, de vez em quando para visitar os pais e rever os amigos. Continuava morando em Belo Horizonte, onde fazia o curso de Direito e trabalhava no funcionalismo público estadual. Sendo um dos mentores do movimento, no auge dos seus 21 anos, Ascânio mudara-se para Belo Horizonte, e acabou deixando a maior parte das tarefas do movimento para o menino Rosário Fusco, que enfrentou às vezes sozinho o trabalho de comandar a revista, após o número de estreia. Contudo, mesmo distante, Ascânio manteve a boa participação, opinando sobre as edições – por meio de correspondência ou nas suas vindas a Cataguases -, fazendo contatos com os novos escritores na capital mineira e redigindo, com Enrique e Fusco, o texto do Manifesto Verde, que saiu em novembro de 1927.
Sua obra conhecida foi aquela publicada no jornal Cataguases, na Verde, na coletânea Poemas cronológicos e no livro póstumo editado sobre ele na década de 60. Uma produção que começou três ou quatro anos antes do movimento de 1929, com sua morte. Um breve período, mas que, em momento nenhum, revelou um trabalho incompleto ou com a marca de um iniciante. Tudo que escreveu tem um caráter de bom acabamento, de completude. Enxerga-se nele o poeta inteiro.
Fonte: Branco, Joaquim, Passagem para a Modernidade - O Movimento Verde de Cataguases 1927, 2ª Edição - Editora Formato de Belo Horizonte, Apoio Editorial/Cultural do Instituto Francisca de Souza Peixoto, Fundação Bauminas e Energisa, 2022.
Fotos: Os verdes em visita ao estúdio de Humberto Mauro, na Praça Governador Valadares em 1928. Na parte de cima: Guilhermino – Renato – Mendes; no meio: Ascânio Lopes; apoiado na escada: Mauro; Sentados: Enrique – Fusco – Francisco. Nesta foto, faltam 3 participantes da Verde: Camilo Sores, Fonte Boa e Oswaldo Abritta. Acervo de Joaquim Branco.
Fotos: acervo de Joaquim Branco e do Jornal Meia Pataca.
Foto: Francisco Inácio Peixoto e João Alphonsus visitam o túmulo de Ascânio em 1938.
Fotos: Túmulo de Ascânio Lopes, 2024 - Acervo do Jornal Meia Pataca
Criação e Desenvolvimento
Welington Carvalho