Em 1828, o francês Guido Tomás Marlière – nomeado Coronel Comandante das Divisões Militares do Rio Doce, Inspetor Geral das estradas e encarregado da civilização e catequese dos Índios pelo Imperador D. Pedro I – chegou ao Porto dos Diamantes (que viria a se chamar Cataguases), às margens do Rio Pomba, local onde estava sediada a 3ª Divisão Militar.
Na ocasião, um dos habitantes da região, o Sargento de Ordenanças Henrique José de Azevedo, doou boa extensão de terras à Província de Minas Gerais e, junto com Marlière, demarcou o território da povoação de “Meia Pataca” – denominação de um córrego afluente do Rio Pomba – que substituiu o antigo Porto dos Diamantes.
A produção de Ouro em Minas, que começara a decair em finais do século XVIII, chegava à exaustão, e o governo, que já rompera “a interdição da floresta atlântica”, a partir de 1814, viu os primeiros deslocamentos humanos partirem para a Zona da Mata.
Somente em 1842, vindo de Lagoa Dourada, chegou à região para se estabelecer o fazendeiro Joaquim Vieira da Silva Pinto, conhecido mais tarde como Major Vieira. Fixou-se no distrito do Glória, com sua família, em que os principais eram os Vieira-Resende e os Dutra-Nicácio.
Ocorreu intenso progresso ao seu redor e sob sua orientação, especialmente pelas plantações de café, que atraíram outros sitiantes e fazendeiros em busca do “novo Eldorado – a Zona da Mata”.
À sombra do Major Vieira, seu filho Jose Vieira de Resende e Silva, mais tarde Coronel Vieira se distinguiu, mas já se tratava de um homem formado em Humanidades. Fez carreira política e ajudou a criar dentro do clã uma linha notável de bacharéis de direito que se perpetuou até nossos dias. Seu prestígio ultrapassou as fronteiras da região.
A povoação, que já se havia transformado em Curato do Meia Pataca em 1841, passava à condição de Freguesia, e o Coronel Vieira, como seu novo chefe político, tornara-se deputado. Graças a sua atuação política, em 1875 foi sancionada a lei que criou o novo município, com sede em Meia Pataca, e levada à categoria de Vila com o nome de Cataguases. A inauguração, porém, somente se deu em 07 de setembro de 1877.
O que demonstram os documentos é que, além de político, o Coronel Vieira também tinha preocupações culturais, como bem acentua o escritor Astolfo Dutra Nicácio ao registrar em seu livro que cinco de seus filhos foram estudar no famoso Colégio do Caraça e um sexto foi para o Colégio Militar. Um deles – Artur chegou a membro do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro, e dois tornaram-se grandes advogados: Afonso e Astolfo Vieira de Resende, este último com fama nacional na época.
Também o solar da família Vieira de Resende – a Fazenda do Rochedo – inaugurada em 1878, teve sua sede construída por artífices da Corte e guarda até hoje as características primitivas, entre as quais o seu mobiliário conservado pela família. Assim registra o fato Silva e Resende, em sua obra sobre a história de Cataguases:
O ano de 1896 foi o período áureo, a idade de ouro desta terra. O Brasil se afogava em dinheiro. Foi a época do café a trinta mil réis, do encilhamento agrícola, das empresas prósperas, das iniciativas arrojadas. Cataguases era o grande empório regional do comércio de café e uma rica e movimentada praça comercial. A vida social tornou-se brilhante. (SILVA E RESENDE, 1908, p.271)
Três anos antes, em 1893, havia estourado no Rio de Janeiro a Revolta da Armada, e milhares de pessoas tiveram que abandonar a capital federal perseguidos pelo governo do Presidente Floriano Peixoto. Por isso para Cataguases vieram algumas figuras de expressão como o poeta Osório Duque Estrada (autor do Hino Nacional), a família do Almirante Saldanha da Gama, Quintino Bocaiúva, a professora portuguesa Carolina Webster e seu marido o inglês Denis Webster e outros professores, inclusive uma francesa e duas portuguesas, que fundaram em São Diniz, a 6 km de Cataguases, um internato para moças.
Contam-se dessa época o primeiro jardim da cidade (no Largo do Comércio), muitos prédios e algumas fábricas - uma de tecidos -, tendo início a construção do Teatro Recreio, do Paço Municipal (inaugurado em 1896) e do Hotel Vilas, este último erguido pelo arquiteto Adolfo Bergamini, e melhorias em calçamentos, passeios, bueiros, construção de pontes, entre outros.
Até aqui, uma breve introdução de como se deu o Movimento Verde, na próxima matéria vamos contar sobre seus antecedentes.
Fonte: Branco, Joaquim, Passagem para a modernidade – O Movimento Verde de Cataguases 1927, 2ª edição revisada, Instituto Francisca de Souza Peixoto, 2022
Fotos Antigas no Flickr: Cine Popular - Largo do Rosário - Pracinha do Comércio em Cataguases MG
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Welington Carvalho