Colégio de Cataguases e de suas práticas educativas nas memórias de seus ex-alunos (Década de 1950).
Fotos: IPHAN - Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional - sem referência de data e autoria.
Em 15/10/1898, a Lei n.º 86, da Câmara Municipal, no seu Art. 1 dizia: “Com o título de Ginásio de Cataguases será criado e mantido pela Câmara Municipal desta cidade, um estabelecimento de instrução secundária, modelado pelos estabelecimentos congêneres, custeados pelo governo do Estado”.
Achamos oportuno sinalizar que em 1872 instalaram-se na cidade os serviços do Correios; em 1877 foi inaugurada a estrada de ferro The Leopoldina Railway Company, Ltda., que ligava Cataguases ao Rio de Janeiro; em 1892 o sistema de água potável; em 1896 a inauguração do Teatro Recreio e, em 1908, a da luz elétrica.
O Colégio de Cataguases, antigo Ginásio de Cataguases e, posteriormente, Ginásio Municipal de Cataguases, foi fundado em 1910, pelos senhores Manuel Inácio Peixoto e João Duarte Ferreira, que organizaram, para explorá-lo, a firma Peixoto, Duarte & Cia. (Documento Inventário – Acervo da Escola Estadual Manoel Inácio Peixoto).
Os primeiros anos do colégio não foram estáveis. O tão aclamado primeiro diretor, Padre Theófilo, não permaneceu.
Um ano, mais ou menos, depois da inauguração o colégio passa para a orientação do Granbery (O Ginásio de Cataguases passa a ser filiado ao Colégio Granbery de Juiz de Fora, de orientação metodista que designa Mr. W.B. Lee para seu reitor, e esse assume as funções em 9 de fevereiro de 1911 nela permanecendo até 27 de novembro de 1913.
Funcionavam na época, quatro cursos:
· Colegial (3 anos);
· Fundamental (3 anos);
· o Agrícola Profissional (4 anos) e;
· Normal (2 anos).
No início de 1914, o colégio filia-se ao Ginásio São José de Ubá, de propriedade e direção dos professores José Januário Carneiro e Antônio Amaro Martins da Costa. Este, na impossibilidade de transferir-se para Cataguases, delega ao Professor Arnaldo Carneiro Viana a direção do colégio, função esta exercida em comum acordo com o Prof. Amaro, e na qual permaneceu até janeiro de 1917, ano em que o Prof. Amaro muda para Cataguases e assume a direção. Em 1923 o ginásio passa para sua propriedade com a compra do terreno e edifício.
É sob a direção do Professor Antônio Amaro que o colégio adquire prestigio regional, insere-se na história do movimento modernista pela atuação de alguns de seus alunos e, em termos legais, incorpora algumas conquistas:
Em 3 de março de 1914 o Governo Estadual lhe concedeu a regalia de Escola Normal pelo decreto n.º 4 141. Logo depois, o Governo Federal lhe concedia Bancas Examinadoras, que funcionaram até 1927. Suprimidas, por nova reforma do ensino, as Bancas Examinadoras, outorgou-se ao Ginásio o regime de inspeção prévia. Pelo decreto de n.º 21 921, de 10 de outubro de 1932, finalmente, tornou-se permanente a inspeção, ficando então o Ginásio considerado “estabelecimento livre de ensino secundário" (O Estudante, 1950 P.1),
Em 10 de janeiro de 1925, a Escola Normal é desmembrada do Colégio e passa para a direção das Irmãs Carmelitas da Divina Providência.
Em 1927, O Ginásio de Cataguases, passa a chamar-se Ginásio Municipal de Cataguases.
Em 1934, foi arrendado aos Padres Agostinianos, mas já no ano seguinte retornava às mãos do Professor Antônio Amaro.
Francisco Peixoto, escritor e industrial da cidade impulsionou a arte e arquitetura moderna na pequena Cataguases ao contratar Oscar Niemeyer para o projeto de sua residência e o Colégio Cataguases em 1945.
Outros nomes do modernismo foram chamados para compor o Colégio: os jardins são de Burle Marx, o mobiliário de Joaquim Tenreiro e Portinari assina o mural do hall, “Tiradentes”, que antes de ser levado à Cataguases foi exposto no MAM do Rio em 1949. Atualmente no Colégio há uma réplica e o original, vendido ao Governo de São Paulo, encontra-se no Memorial da América Latina, na Barra Funda, em São Paulo. Paulo Werneck concebeu o painel em pastilhas “Abstrato” e à frente do edifício encontra-se a “O Pensador,” de Jan Zack.
O antigo Colégio Cataguases completou 100 anos no dia 31 de março de 2010. Um espaço de educação que também destaca a riqueza do patrimônio artístico da cidade. Na imponente fachada, projetada por Oscar Niemeyer, uma escultura chama a atenção. A obra, que representa duas mãos segurando um livro, é do paisagista Burle Marx, o painel é de Paulo Werneck e uma réplica, de Cândido Portinari.
Pelos corredores do colégio já passaram centenas de milhares de alunos. O local é mais do que uma instituição centenária. É um símbolo da cidade! Entre os alunos famosos, está Chico Buarque. Os registros guardam uma dedicatória de outro importante nome da cultura brasileira. Cecília Meirelles, que visitou a escola e ficou seduzida por sua beleza.
Além do auditório, o Colégio de Cataguases também sediou dois museus: o Museu de Belas Artes de Cataguases e o Museu de Arte Popular. Na coleção do primeiro figuravam quadros de pintores famosos, nacionais e estrangeiros, tais como: Iberê Camargo, Jean Lurçat; A. Beloborodonov; Luis Jardim, Clóvis Graciano, Osvaldo Goeldi, Jan Zach, Durval Serra, Mueller Kraus, Tomás Santa Rosa Júnior, Atos Bulcão, Fayga Ostrower, Alberto da Veiga Guinard, Di Cavalcanti, Marcelo Grassmann, Farnese, Aldari Toledo, Juan Del Prete, Yllen Kerr, Van Rogger, Epstein etc e José Alves Pedrosa ( escultor). Dentre todas as obras , avulta o já célebre painel “Tiradentes”, comentado por inúmeros críticos de arte do Brasil e do estrangeiro, e que foi filmado pela Companhia Cinematográfica Vera-Cruz, de São Paulo. É o mais vasto trabalho de Cândido Portinari. Mede dezoito metros de comprimento por três e vinte de altura (Documento Inventário). O segundo museu foi criado pelo escritor Marques Rebelo, que organizou, captou e doou a maior parte das peças para o seu acervo.
Inaugurado em 1949, o prédio foi tombado em dezembro de 1994 pelo IPHAN.
A história oficial do ensino em Cataguases, especificamente a do ensino secundário (atual Ensino Fundamental e Ensino Médio) restringe-se à história da instituição reduzida à nominação dos diretores e à demarcação dos seus períodos de gestão, com uma ou outra observação elogiosa; à alusão aos prédios que abrigaram a instituição - da antiga “casa de fazenda” ao modernismo arquitetônico de Oscar Niemeyer, no monumento de Niemeyer e o painel de Cândido Portinari.
A década de 1950 ficou conhecida como a “Década de Ouro” do Colégio de Cataguases. Nele já estava concluída a construção do novo e moderno prédio. Na década seguinte, mais precisamente no ano de 1963, o colégio seria transformado em Escola Estadual.
O colégio, nos seus prospectos das décadas de 1940 e 1950, destaca o Jornal e o Grêmio que “foi fundado em 13 de maio de 1914 e por ele passaram alunos que hoje ocupam espaços importante na sociedade.
Também na década de 1950 houve uma proliferação de jornais produzidos pelos alunos do Colégio de Cataguases, utilizando mimeógrafo a álcool para sua impressão e contando com a boa vontade das secretárias e disponibilidade real da “máquina de escrever” para que pudessem ser “batidos”, são eles: O Pirilampo, “O jornal que é uma luz sobre o Colégio de Cataguases” era uma iniciativa dos alunos internos. O Irreverente, “O jornal que não faz cerimônia para dizer a verdade” era uma iniciativa compartilhada entre alunos internos e externos; O Matraca era o órgão oficial da 2ª série B, um jornal que não podia competir com a “cultura bem talhada de um jovem que se encontra no científico”, mas já era impresso em tipografia e apresentava uma diagramação profissional.
Esta Escola Estadual foi sede do antigo Colégio de Cataguases. No seu acervo encontramos Prospectos de propaganda do Gymnásio Municipal de Cataguases, fevereiro de 1932; do Ginásio Municipal de Cataguases, 1944/45 e do Colégio de Cataguases, 1910-1960;
Programa Comemorativo da visita do Social Ramos Clube à Princesa da Zona da Mata: jogo de basquete entre as equipes da Faculdade de Direito de Niterói e a do Colégio de Cataguases; Convite para a inauguração do monumento em homenagem ao Professor Antônio Amaro Martins da Costa, 26 de maio de 1951; Cópia do Hino do Colégio com música de Ary Barroso e letra de Toste Malta; Estatutos e Regimentos Internos do Colégio de Cataguases; do Grêmio Literário Machado de Assis; do Gimnásio Municipal de Cataguases e do Colégio Estadual Manoel Inácio Peixoto.
Encontramos também documentos com uma descrição minuciosa do colégio, a localização, a arquitetura interna e externa do prédio, o número de dependências, a destinação das mesmas, as metragens, sistema de ventilação e iluminação, mobiliário, aparelhagens, além de um breve histórico do estabelecimento, capacidade de matrícula, horários, corpo docente, relação das obras de arte e da praça de esportes.
Fonte: As representações do Colégio de Cataguases e de suas práticas educativas nas memórias de seus ex-alunos(Década de 1950). Mestre em Educação pelo Programa de Pós Graduação da Universidade Estácio de Sá. Área de Concentração: Educação e Cultura Contemporânea, 2005 - Eloísa de Castro Silva
Criação e Desenvolvimento
Welington Carvalho