Mais de um século de história
Grupo Escolar Cel. Vieira
O “Grupo Escolar de Cataguazes”, criado pelo Decreto Estadual 3.723, de 08 de outubro de 1912, foi inaugurado em 24 de fevereiro de 1913, pelo Agente Executivo e Presidente da Câmara Municipal, Cel. João Duarte Ferreira, e pelo Deputado Federal Astolfo Dutra, sendo Governador do Estado o Dr. Júlio Bueno Brandão.
Para compreender a sua importância para Cataguases, valemo-nos do Relatório do Inspetor Técnico da 16ª Circunscrição Literária, Major Estevam de Oliveira, apresentado ao Secretário de Interior, em 31 de janeiro 1907, que informava estar a administração municipal empenhada na fundação de um grupo escolar e revelava as precárias condições do ensino primário das escolas estaduais da cidade, ministrado em salas inadequadas, classes multisseriadas, ou seja, salas com até quatro séries, além de mobiliário, métodos e materiais didáticos impróprios.
Com professores bem avaliados, eram assim instaladas:
1- Escola Feminina, que funcionava na própria casa da professora, normalista Etelvina Soares de Azevedo;
2- Primeira Cadeira Feminina: regida pela normalista Maria de Assis Coelho, funcionava na sala de um prédio público;
3- Escola Mista: funcionava em sala alugada e paga pela própria professora, a normalista Honorina Ventania, a ela pertencendo todo o mobiliário;
4- Escola Masculina: também funcionava em sala alugada e mantida pela professora, normalista Cecília Coelho;
5- Segunda Cadeira Masculina: funcionava na sala de um prédio público, regida pelo professor Clodoveu Henrique de Oliveira.
O Estado mineiro já experimentava os primeiros efeitos da “Reforma João Pinheiro”, aprovada pela Lei 439, de 28 de setembro de 1906, no governo de João Pinheiro da Silva, que visava a reorganização dos ensinos primário, normal e superior em Minas Gerais, seguindo uma tendência nacional. Os grupos escolares se constituíam em um dos destaques desta reforma, que modernizou o sistema educacional mineiro ao concentrar os alunos num
mesmo prédio escolar, distribuídos em salas específicas para cada série. Dentre as alterações promovidas pela mencionada reforma, vale destacar o ensino primário gratuito e obrigatório, a reestruturação dos programas de ensino e a inspeção centralizada.
Para alguns estudiosos, a criação dos grupos escolares constituiu a expressão da política educacional republicana, cultuando os símbolos, valores e a pedagogia moral e cívica deste regime político. Entretanto, somente quatro anos após a sua aprovação, esta reforma chegou a Cataguases. Em 1910, o Cel. João Duarte Ferreira iniciou os entendimentos com o governo estadual visando a criação do grupo e a escolha do local para a sua construção. Autorizado pela Câmara, contraiu um empréstimo junto ao Estado para a realização de várias obras, inclusive a construção do grupo, como previa a Lei Municipal 233, de 1911:
Art.5º- Fica o Agente Executivo Municipal igualmente autorizado:
c) a construir um edifício para o grupo escolar n’esta cidade em terrenos da Câmara Municipal, nos fundos das casas pertencentes a D. Amália Camacho, D. Honorina Ventania e irmãos, ficando desde já decretada a desapropriação das benfeitorias que aquelas proprietárias tem no referido local, na área necessária para construção do edifício e suas dependências, de acordo com a respectiva planta que fica expressamente aprovada.
De imediato, tiveram início as obras de aterro e desaterro e, em setembro do mesmo ano, numa concorrida solenidade presidida pelo Cel. João Duarte tendo como orador oficial o Dr. Astolfo Dutra, foi lançada a pedra fundamental com uma urna contendo jornais, moedas e outros objetos para guardar a memória da época, além da ata assinada pelas autoridades. Das mãos de José Pereira Louro, o mestre de obras encarregado da construção do prédio, o Agente Executivo recebeu a colher de pedreiro com a argamassa para lacrar a referida urna. Em carta aberta ao Agente Executivo, o professor Eurico Ferreira da Cunha Rabelo, futuro Diretor do grupo, reivindicava uma alteração na planta oficial do prédio, fornecida pelo Estado, para incluir a construção de um andar superior para o salão nobre, destinado às solenidades cívicas escolares, não tendo sido atendido. A obra despertava a curiosidade e os comentários populares: alguns a elogiavam, outros criticavam o local escolhido e havia, ainda, os que diziam que aqueles alicerces não aguentariam o peso de uma “lágrima de mosquito”.
A conclusão da obra se deu em novembro de 1912, sendo o grupo o primeiro prédio da Avenida João Duarte, conforme noticiou o jornal CATAGUASES, em sua edição de 15 de novembro do mencionado ano. No início de fevereiro de 1913, com 697 alunos matriculados, foi realizada uma exposição com os uniformes a serem adotados na escola, inovação que provocou algumas reações contrárias, mesmo com a campanha empreendida pelo Diretor Eurico Rabello para doá-los aos alunos pobres.
Numa pomposa solenidade de inauguração, a Banda “Sete de Setembro”, que precedera o cortejo de autoridades e populares da Câmara até o grupo, abriu a cerimônia mediante a apresentação da ópera
“O Guarani”, de Carlos Gomes, executando ainda os Hinos Nacional, da Proclamação da República e de Cataguases. Saudando as autoridades e professores falaram, pelo grupo, os alunos
Camilo Nogueira da Gama
e
Maria Mercês de Souza Lima; pelo Colégio N. Sra. do Carmo, Maria da Conceição Macedo, e pelo Colégio Granbery, Custódio da Silva. Os festejos foram filmados por João Stamato, técnico da Companhia Internacional Cinematográfica do Rio de Janeiro, que produziu a fita “Cataguazes”, contratado pelo italiano Paschoal Ciodaro, aqui residente, então arrendatário do Cinema Recreio, pertencente ao Cel. João Duarte. O filme, que mostrava também a ginástica sueca pelos alunos do grupo, vistas das ruas, praças e prédios da cidade, além de uma viagem à Usina Maurício, foi exibido com enorme sucesso no mês seguinte. Os esforços para localizar este filme, dividido em três partes de 400m cada uma, foram infrutíferos.
Em 21 de abril de 1913, como instrumento de educação moral e cívica, foi fundada a “República Escolar Tiradentes”, presidida por um Aluno Cidadão que escolhia seus ministros, cujas pastas tinham atribuições que iam dos cuidados com o prédio ao arquivamento de documentos. A República era composta de dez Salas Estado, cada uma com seu respectivo presidente. O primeiro presidente da República Tiradentes foi o aluno Camilo Nogueira da Gama (ao centro na foto) que, anos depois, exerceria mandatos de vereador, Deputado Federal e Senador.

Foto: República Escolar Tiradentes, 21.04.1913. autor Alberto Landoes. Arquivo Público Mineiro.
Os primeiros exames para aprovação de alunos foram realizados em
1913, aplicados pelo Inspetor Escolar,
Dr. Joaquim Figueira da Costa Cruz, pelo Diretor Eurico Rabelo
e pelas Professoras
Etelvina Soares Azevedo,
Doraliza de Salles Ferreira, Ana Ferreira dos Santos, Eponina Dutra e Nair Pinto. As dez salas, todas mistas, em funcionamento no ano de 1916, com turnos de manhã e de tarde, ainda sob a direção do professor Eurico Rabelo, estavam a cargo das professoras
Ana Ferreira dos Santos, Cecília Juliana Coelho, Doraliza de Salles Ferreira, Emília Pio, Eponina Dutra, Flávia Fernandes, Honorina Ventania, Judith Azevedo, Maria de Medeiros Castanheira e Rosa Tavares Baião. José Antônio Theodoro, conhecido como “Zé do Grupo”, era o porteiro, e Luiza do Valle Salles, a servente.
O grupo recebeu a nova denominação de “Coronel Vieira” por ocasião da visita a Cataguases do então Presidente do Estado, Antônio Carlos Ribeiro de Andrada, que aqui assinou o Decreto 8.890, de 23 de novembro de 1928, homenageando o Coronel José Vieira de Resende e Silva. Hoje, funcionando no mesmo prédio, em dois turnos, o grupo conta com 630 alunos distribuídos nas 25 turmas do 1º ao 5º ano do ensino fundamental, duas turmas do projeto escola de tempo integral e duas turmas de educação inclusiva.
Para conhecimento e orgulho das futuras gerações, a rica história do grupo merece o esforço de seus dirigentes e servidores, alunos e ex-alunos, no sentido de resgatar documentos, tais como livros de atas, provas, fotografias, livros e objetos didáticos, registros deste século de funcionamento.
Fontes consultadas:
1- Araújo, José Carlos Souza: Os grupos escolares em Minas Gerais: a Reforma João Pinheiro (1906)
2- CATAGUAZES, Órgão Oficial do município de Cataguases, 1907 a 1913.
3- Legislação Mineira, Assembleia Legislativa de Minas Gerais
4- Brasil, Hélio: O Solar da Fazenda Rochedo e Cataguases (pesquisas e notas de José Rezende Reis)
5- Capri, Roberto: Minas Gerais e seus municípios, 1916
6- Livro de Atas da Caixa Escolar, 1913 a 1943, Escola Estadual Cel. Vieira.
7- Livro de atas de exames do Grupo Escolar, 1913 a 1928, Escola Estadual Cel. Vieira.
Joana Capella - Pesquisadora
Dilson M. de Freitas - Colaborador
Redatora Chefe: Karla Valverde