147 anos depois, alguns aspectos significativos

Por:  Maria Joana Neto Capella - Pesquisadora

Criado pela Lei n. 2.180, de 25 de novembro de 1875, desmembrado de Leopoldina, o município de Cataguases comemora, neste ano, os 147 anos de sua instalação oficial, ocorrida em 07 de setembro de 1877.

 

Localidade

A área onde se acha situado o centro antigo de Cataguases, cortada pela estrada Minas-Campos dos Goitacazes, era parte da fazenda do Sargento de Ordenanças - Henrique José de Azevedo, doada por Termo de Doação lavrado em 26 de maio de 1828 por Guido Marlière, cujo documento contém a primeira referência, até agora conhecida, às terras de Azevedo no arraial de Santa Rita do Porto dos Diamantes. A origem da propriedade destas terras é ainda desconhecida, mas podem ter sido adquiridas por apossamento, concessão de sesmaria ou mesmo através de compra, como foi o caso das terras que ele possuiu na fazenda Monte Redondo, nas proximidades do atual município de Santana de Cataguases, adquiridas de Joaquim Dias Moreira, antes de 1855.

 

Aldeamento de Meia Pataca

Em 20 de setembro de 1822 aqui havia sido criado, por Guido Marlière, o Aldeamento de Meia Pataca, proposta governamental de reorganização das aldeias indígenas – estas uma organização espontânea dos índios - em um território demarcado e sob a administração do Estado, onde se instalou o Quartel de Porto dos Diamantes. Seis anos após, quando da criação do arraial de Santa Rita do Porto dos Diamantes, a povoação já contava com 30 casas e uma capela construída, visando, inclusive, a catequização dos índios. Em obediência ao Diretório de 7 de dezembro de 1767, ato do então Governador Luiz Diogo Lobo da Silva que regulamentava a criação de povoados em terras indígenas, Guido Thomaz Marlière, então diretor dos Índios, traçou as ruas da nova povoação tendo ao centro a referida capela.

 

Famílias

As primeiras famílias aqui residentes eram oriundas das Freguesias da Pomba, Presídio, Piranga e Mariana, de onde também desciam boiadas, tropas com cargas de carne, toucinho, queijo, algodão, café, fumo e a poaia, planta medicinal para serem vendidas em Campos dos Goytacazes de onde retornavam com sal, ferro e outros produtos importados.

 

Planta da Cidade

Em 06 de novembro de 1877, a primeira planta da cidade, recém elaborada, foi apresentada à Câmara Municipal por seu autor, Dr. Alberto Belmonte de Aguiar, engenheiro gaúcho que trabalhava na construção da linha férrea Juiz de Fora-Ponte Nova. Alberto e o então vereador Camilo Delfim Silva residiram na fazenda Canadá, em Cataguarino, sendo ambos genros de João José de Souza Lima e Carlota Raquel de Souza Lima, fazendeiros no mesmo distrito. Da referida planta constavam seis ruas e duas praças, quais sejam: Largo da Matriz, Largo do Rosário, Caminho do Passa Cinco, Caminho da Estação, Rua do Sobe-Desce, Rua do Pomba, Rua do Meio e Rua do Cemitério.

 

Curiosidades

Alterações nos nomes de ruas foram propostas pelos vereadores Camilo Delfim Silva, em 09 de janeiro de 1878, e Agnelo Carlos Quintella, em 20 de outubro de 1885, ambas aprovadas pela Câmara.

 

Vejamos as denominações originais de alguns logradouros e suas respectivas alterações até os nomes atuais, além de algumas curiosidades:

  1. Largo da Matriz, Praça 25 de Junho e Praça Santa Rita - Aqui se localizava a estátua de Guido Thomaz Marlière, obra do escultor Luiz Ferrer, inaugurada em 26 de maio de 1958. Sua construção, por subscrição popular, foi uma iniciativa do político Dr. Pedro Dutra Nicácio Neto.   
  2. Largo do Rosário, Largo do Comércio, Praça do Comércio e Praça Rui Barbosa - Ajardinado em 1893, sediava o imponente prédio da Sociedade Teatro Recreio, cedido ao Cel. João Duarte Ferreira em 1910, em pagamento de hipoteca, e por ele deixado, em testamento, ao Hospital de Cataguases. O Teatro foi demolido, sendo construído, no mesmo local, o Cine Teatro Edgar;
  3. Largo da Estação, Praça Governador Valadares - Ali se localizava o Engenho Central de Cataguases, que em 1881 pertencia ao Comendador Carlos Pinto de Figueiredo e depois ao Cel. João Duarte Ferreira, que beneficiava de café, arroz e madeira. O prédio, de 1890, ainda existente, sofreu pelo menos duas alterações: uma reforma executada no período de 1908 a 1916 e a construção de um pavimento superior, em 1925. O Largo sediava, também, os armazéns da Federação Cooperativa Agrícola de Cataguases, que encampava, dentre outras, as cooperativas de café de Cataguases, Itamarati e São Manoel do Guaiaçu;
  4. Caminho do Passa Cinco, Rua José de Alencar e Rua Alferes Henrique José de Azevedo - Era um trecho da estrada que ligava Presídio (hoje Visconde do Rio Branco) a Campos dos Goitacazes. Seguia pela rua Cel. Vieira e descia em direção ao ribeirão Cágado;
  5. Caminho da Estação, Rua da Estação e Rua Cel. João Duarte Ferreira - Esta rua, hoje conhecida como Calçadão, homenageia uma das mais destacadas figuras da nossa história política e econômica. Em 1887, sediava o Hotel Progresso, onde o dentista Roque Cathete atendia em seu “gabinete de arte dentária”;
  6. Rua do Sobe-Desce, atual Rua Cel. Vieira - Na esquina com o Largo da Matriz, onde hoje se situa o prédio da Câmara Municipal, foi concedido alvará de posse a Joaquim Tomás de Aquino Cabral, em 19 de maio de 1879, para ali construir o primeiro engenho de café, inaugurado como “Engenho Central Cabral” somente em 30 de junho de 1886. Esta rua, que se estendia até o ribeirão Meia Pataca, teve seu calçamento concluído em 1880. Um trecho foi denominado “Ladeira Capitão Carlos”, tendo a sua parte final recebido, posteriormente, a denominação de “Rua Professor Alcântara”, ainda hoje mantida;
  7. Rua do Meio, Rua Direita e Rua Rebello Horta
  8. Travessa do Rosário, Rua do Rosário e Rua Tenente Fortunato - Em 1881, esta era a nova via que, da rua da Estação, seguia para o rio Pomba. Na esquina, em frente ao prédio da Maçonaria, Venâncio Vieira Coelho de Araújo fez a doação de um terreno para construção da Igreja do Rosário, cuja obra não foi executada.
  9. Travessa Conselheiro Saraiva - Ligava a Rua Rebello Horta à Rua Cel. Vieira e era o endereço do ateliê de Gallotti Serra, fotógrafo italiano, representante da firma Ornestein S.A, de Importação e Exportação de Mantimentos e Molhados aqui na região, que havia sido representante da Federação de Cooperativas de Cataguases, na Itália.
  10. Avenida Astolfo Dutra - Autorizado pela Lei n.198, de 16 de março de 1906, o Agente Executivo Cel. Joaquim Gomes de Araújo Porto adquiriu terrenos às margens do córrego Lava Pés para ali construir uma rua ou avenida. Neste mesmo ano, foi concluída uma ponte de pedra sobre o córrego, construída por Francisco Drumond. A Lei n.221, de 18 de abril de 1908, com um capítulo dedicado às edificações urbanas, determinava que os pretendentes às posses na nova avenida deviam apresentar o requerimento e a planta da edificação a ser feita, exigência mantida até 1912. Sua abertura e construção teve início em 1911, na gestão do Cel. João Duarte Ferreira, sendo o grupo escolar seu primeiro prédio.

       

 A Lei Municipal n.267, de 28 de julho de 1920, em seu art. 1º, deu a denominação “Avenida Dr. Astolfo Dutra” à avenida construída a longo da via férrea, conforme sugestão do vereador Manoel Vaz, aprovada pela Câmara, em homenagem a este vulto político, então falecido.

 

Distritos

Ao final dos anos 1890 o município contava com os distritos da sede, de Cataguarino, Santo Antonio do Muriaé, N. Sra. Da Conceição de Laranjal, Vista Alegre, São Francisco de Assis do Capivara, Porto de Santo Antonio, Itamarati de Minas e Santana de Cataguases. A riqueza e a prosperidade trazidas pela produção e exportação de café - a principal atividade – além de arroz, milho, feijão, fumo e aguardente, mudaram o aspecto da cidade e refinaram os costumes.


Surgiram o Banco de Cataguases e o Banco Constructor – pertencentes ao Cel. João Duarte Ferreira; o Banco de Crédito Real de Minas Gerais; o Engenho Guaraciúva, de Leopoldo Murgel; Comissários e representantes de exportadores de café; Fábrica de Cerveja; Colégio São Diniz –fundado em 1887; Casas comerciais com produtos importados; Hotéis, o Teatro Recreio, com apresentações semanais de peças teatrais e recitais de música e poesia; Professores de música, de línguas e outros profissionais liberais como jornalistas, advogados e médicos; edição de jornais como O Povo, O Popular, O Cataguasense, dentre outros.

 

Nas duas primeiras décadas dos anos 1900, sob a administração da Câmara Municipal, presidida pelo Cel. Joaquim Gomes de Araújo Porto, no período de 1901 a 1909, e pelo Cel. João Duarte Ferreira, de 1910 a 1923, Cataguases viveu um período de prosperidade. Como exemplo citamos:

 

  • Organização do Arquivo e criação da Biblioteca Municipal com mais de mil livros, em 1901;                                                                                                           
  • Criação da Imprensa Oficial, do Jornal “CATAGUASES” e regulamentação do Arquivo Municipal; fundação da Federação das Cooperativas de Cataguases, visando mais apoio à cafeicultura;                                                                                                                                                   
  • Criação, pelo Cel. João Duarte e outros sócios, da Cia. Fiação e Tecelagem de Cataguases, da Cia. Força e Luz e da Usina de Açúcar;


  • Construção de 4km de trilhos para bondes, por concessão municipal à Sociedade Carris Urbanos de Cataguases, de Carvalho, Pires, Silveira, Ramos&Comp.;


  • Ampliação da rede de água e esgotos e construção da casa de bombas elétricas;


  • Criação do Ginásio de Cataguazes e da Escola Normal N. Sra. Do Bom Conselho; das Colônias Agrícolas “Santa Maria” e “Major Vieira”;


  • Construção do Grupo Escolar de Cataguazes e da Avenida Cataguases;


  • Aquisição e inauguração do cinematógrafo do Teatro Recreio em 1911, propriedade do Cel. João Duarte Ferreira, dirigido por Paschoal Ciodaro;


  • Implantação do serviço de telefonia, por concessão municipal a Paulino José Fernandes;


  • Fundação da Fábrica de Tecidos “União Industrial”, de toalhas felpudas, em 1911, situada na atual rua Alferes Henrique de Azevedo, propriedade de José Inácio da Silveira, Joaquim Peixoto Ramos e Osório de Mattos Lima;


  • Instalação da Fábrica de Ladrilhos, de Cigarros e de Fósforos;


  • Produção da primeira fita cinematográfica sobre a cidade em 1913, por João Stamato, uma iniciativa do italiano Paschoal Ciodaro, empresário do Cine Recreio;


  • Representação de jornais da capital como o “Café da Imprensa”, agente do Jornal do Brasil;


  • Construção da ponte metálica e do hospital;


  • Instalação da 25º agência do Banco do Brasil.

 

A exemplo do ocorrido em outros municípios da Zona da Mata, em consequência do enriquecimento propiciado pelo café e da aliança entre fazendeiros e bacharéis, Cataguases teve representação e força política no cenário estadual e federal da Primeira República, através de Astolfo Dutra Nicácio - Presidente da Câmara Federal por seis vezes, Eduardo Ernesto da Gama Cerqueira, Heitor de Souza, Joaquim Figueira da Costa Cruz; Navanino Santos, Pedro Dutra Nicácio Neto e Sandoval Soares de Azevedo.

 

Leis

A Lei n.221, de 18 de abril de 1908, que “Codifica todas as Leis Municipais”, contendo mais de 70 Capítulos e 650 Artigos, promulgada pela Câmara e publicada pelo seu Presidente em exercício, Coronel Luiz Januário Ribeiro, constitui um verdadeiro retrato do município, rica fonte de estudos para o conhecimento de sua história por abordar aspectos da administração pública, tais como rendas e impostos, obras, delimitação e desenvolvimento do perímetro urbano, prestação de serviços como água, esgotos, limpeza pública, ensino, funcionalismo, estradas e edificações urbanas, dentre outros.

 

A Lei n.198, aprovada em 16 março de 1906, previa o levantamento de uma planta da cidade e neste mesmo ano o engenheiro George Bourgeois enviou proposta à Câmara para a realização do “Serviço de planta e nivelamento geral da cidade, projeto de arruamento, planta das redes de água e esgotos, projetos de tipos de fachada e modificação do leito do córrego Lava Pés

 

Planta da Cidade

A “Planta da cidade de Cataguazes, 1913 - Projeto de reforma e ampliação da rede de distribuição” de água e esgotos, elaborada pelo Dr. Domingos da Rocha, engenheiro do Estado de Minas Gerais, a partir de levantamentos de seu auxiliar Leopoldo Rodrigues Alves, visava a melhoria dos serviços, conforme declarou o Cel. João Duarte Ferreira, então Agente Executivo, em 15 de janeiro de 1913, na sua Mensagem à Câmara Municipal. (DSC 6008-JornalCTZ)

 

Mapa da Cidade

Os mapas “Evolução da Cidade de Cataguases” e “Cidade de Cataguases”, organizados em 1954 pela geógrafa Maria Francisca Thereza C. Cardoso, mostram a retificação do leito do ribeirão Meia Pataca, no seu trecho urbano, obra iniciada em 1891, na gestão do Intendente Eduardo Ernesto da Gama Cerqueira, com o objetivo de reduzir as inundações na cidade.

Quanto ao mapa do município, o mais antigo que conhecemos é o da Comissão Geográfica e Geológica de Minas Gerais, de 1926/1927, entretanto, a primeira referência então conhecida a Porto dos Diamantes nos registros cartográficos é na “Karte der Capitania von Minas Geraes”, de W. von Eschwege, de 1821.

 

Famílias que povoaram Cataguases

Quanto aos povoadores de Cataguases, que consideramos os moradores da região no período de 1798 até 1831, podemos citar as famílias Afonso, Almeida, Arantes, Azevedo, Barbosa Coura, Barros, Borges de Andrade, Cardoso, Dias Lopes, Ferreira Maciel, Fialho Garcia, Ferreira Armond, Freitas Ferreira, Gonçalves, Gomes, Marlière, Marques da Costa, Medeiros, Moreira de Souza, Novaes, Pereira de Souza, Pereira Pontes, Pita de Castro, Rodrigues de Aguiar, Rodrigues de Mello, Rodrigues Pires, Rodrigues dos Santos, Santos, Silva Maia, Silva Viana, Souza, Souza Lima e Teixeira de Siqueira, dentre outras. Aqui se dedicaram à agropecuária com trabalho familiar e de algumas destas famílias encontramos descendentes que, ainda hoje, residem em Cataguases e municípios vizinhos.


Feliz Aniversário Cataguases!


Por: Maria Joana Neto Capella - Pesquisadora

Fotos: Estátua do Guido Marlière, 1958 - acervo de Joana Capella

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