A história de vida de Manoel Peixoto difere bem da do seu opositor. Não frequentou curso superior, fez os cursos primário e secundário na própria cidade e começou cedo o trabalho na fábrica, aos 16 anos.
Quando seu pai morreu, estava com apenas 18 anos e teve que assumir a empresa, juntamente com seus irmãos. Homem prático e objetivo, fez crescer a fábrica – Indústria Irmãos Peixoto – que se tornou o núcleo de suas empresas. Através de investimentos da pequena empresa, outras indústrias foram sendo criadas: Companhia Industrial Cataguases, Companhia Manufatora de Tecidos de Algodão, Companhia Mineira de Papéis e Indústrias Químicas Cataguases Ltda.
Manoel Peixoto foi diretor-presidente de todas elas, com exceção da primeira. Espírito empreendedor, “se fez” através de seu trabalho e acumulou capital com seus negócios. Capital este investido em mais indústrias. Não se via como “explorador de mão-de-obra”, como o retratava seu opositor, mas como alguém que dava emprego, dinamizava a economia e investia seus lucros em benefício da cidade, trazendo-lhe inúmeras melhorias.
Encontramos aí um elemento do pensamento liberal clássico: o lucro do capitalista é benéfico, pois se torna capital, sendo investido para gerar mais empregos e dinamizar a economia proporcionando melhorias para toda a sociedade. Ao Estado não cabe interferir nos negócios, mas zelar pela ordem interna, proteger a propriedade privada e garantir o cumprimento da lei (ou dos contratos).
Manoel Peixoto, como industrial que era, filiava-se a essa corrente de pensamento e, como político, engrossava os quadros da UDN. O liberalismo sempre foi o ponto de referência do udenismo. O partido sempre se apresentou como o legítimo herdeiro da tradição liberal no Brasil. Portanto, o fato de Manoel Peixoto ser industrial e filiado a UDN, não é uma simples coincidência: há uma cultura liberal permeando sua prática política.
Manoel Peixoto elegeu-se deputado estadual em 1934, deputado federal em 1954 e chefiou a oposição local. Não era um político de profissão, nem tinha a oratória de seu adversário. Era acima de tudo um empresário. Um empresário na política, se auto representava como homem do trabalho e do progresso, responsável pelo desenvolvimento econômico da cidade. Assim como no caso do seu opositor, sua trajetória e vivência social não destoam muito da representação que construía de si mesmo.
O propósito dessa ligeira exposição é demonstrar a vinculação que há entre as representações e o real; entre a representação e as práticas sociais. As representações que cada um criava de si mesmo não surgiam do “nada”, estavam vinculadas às suas ideias e convicções e às suas práticas sociais. Essas imagens foram construídas pelos dois chefes e construídas num contexto de disputa política acirrada. Portanto, não podem ser vistas também como simplesmente um reflexo ingênuo do real. Havia uma briga pelo poder e isso não pode ser esquecido ou desprezado. As representações que cada um fazia de si mesmo e do outro foram criadas tendo em vista um fim, que é a conquista do poder. Assim essas imagens foram cuidadosamente elaboradas, trabalhadas e, uma vez criadas, foram amplamente exploradas pelos dois chefes. Podemos dizer que houve uma instrumentalização das representações, uma vez que elas foram utilizadas como ferramentas eficientes e eficazes na disputa pelo poder.
Os dois contendores com certeza souberam explorar bem o imaginário e os símbolos em seus discursos apelando para os sentimentos e as emoções da população. Souberam explorar ao máximo essas imagens para mobilizar o povo e conduzi-lo de acordo com seus interesses políticos. Aliás, é exatamente aí que reside a força política das representações.
Foto: Manoel Inácio Peixoto - Acervo: https://www.camara.leg.br/deputados/3100/biografia - sem referência de data
Fonte: A disputa de grupos familiares pelo poder local na cidade de Cataguases – práticas, representação e memória
Dissertação de mestrado apresentada ao Programa de Pós-Graduação em História da Universidade Federal de Minas Gerais, pela Professora e Mestre em História, Odete Valverde Oliveira Almeida.
Criação e Desenvolvimento
Welington Carvalho