Auto-representação - 1930 a 1950
Manoel Peixoto - Autorrepresentação
Trabalhador, administrador sério e operoso, realizador, dinâmico, enérgico, empreendedor, animado, patriota, digno, honrado, pacífico, ordeiro, tolerante, democrata, respeitador da lei e do direito. Dono de notável força moral capaz de impor à anarquia a disciplina de seu espírito.
É um “novo” homem, de valor puro, inflexibilidade serena e nobre, energia austera e franca. Traz a felicidade perdida a Cataguases.
Manoel Peixoto, figura central do movimento que restituiu Cataguases aos dias de paz, ordem e trabalho. Homem de caráter, inteligência lúcida, força de vontade inquebrantável, educado na escola do trabalho, patrimônio moral de nossa terra, devotamento pelo progresso e grandeza do rincão que lhe serviu de berço. “Sua vida pública e particular constitui uma linha reta entre o dever e a honra.” (Jornal Cataguases, 28.01.1937)
Irmãos Peixoto: homens de trabalho, que colaboram com a riqueza pública com a atividade de seu esforço, progressistas, família que tem feito a grandeza de Cataguases. Homens bons, criteriosos e honestos na administração pública. Amigos dos operários, seus companheiros de luta. Democratas, garantem a vitória do direito e a implantação da liberdade através de pleitos livres, sem coação ou desordens.
São esses alguns dos adjetivos atribuídos a Manoel Peixoto – e seus irmãos – como pessoa, empresário e político.
Todavia, a maior representação criada pelo chefe de si mesmo e que lhe imprimiu a sua marca – a ele e a sua família – é a de progressista. A imagem do progresso associada ao nome “Peixoto” é uma constante em seus discursos. É ele o grande realizador, o responsável pelo reerguimento da cidade, aquele que reconstitui as forças e impulsiona o progresso. Dinâmico, revitaliza as energias, desperta e levanta o município, intensifica a produção, edifica e embeleza a cidade, anima o comércio, incrementa a lavoura e a indústria.
“Levantemos o município”. Nasce uma nova era de esperanças. Trabalhar, realizar, intensificar a produção, edificar, embelezar a cidade, cuidar da lavoura, animar o comércio, incrementar a indústria, zelar pelos distritos.
Manoel Peixoto orienta a política municipal com a bússola da ordem e do trabalho, congregando as forças em prol da grandeza e prosperidade do município. Novas construções estão se levantando na cidade, reforma de prédios, fundação de mais um banco, reforma de jardins, concerto de estradas e pontes, construção de escolas rurais. A fé e a esperança renascem nos corações. Cataguases marcha a caminho de sua completa redenção, reabilita-se, reconquistando o renome de altivez. Com ele a cidade reanima e caminha rumo a um futuro de grandeza e prosperidade. “Trabalhemos para frente, para o progresso” é o seu lema.
Criadores da indústria em Cataguases, os Peixoto alimentam em suas oficinas mais de 500 operários. São os maiores proprietários da cidade, concorrendo para o aformosamento de uma grande cidade mineira. Banqueiros, possuem seus capitais investidos na lavoura. A indústria açucareira da cidade sobrevive às custas de seu esforço. (Cf. Processo Ação Possessória, 1932. P.211. CDH)
Homens de larga visão comercial, multiplicaram os teares, aumentaram a produção, variaram os produtos, conquistaram mercados. Proporcionam trabalho a dezenas de pessoas na cidade e no campo. A sua produção industrial contribui para a proliferação de inúmeras indústrias menores de peças, manutenção e reparos. A grande indústria arrasta outras pequenas. O crescimento industrial contribui ainda para elevar o nível de instrução, desenvolver o comércio, melhorar os transportes, aumentar a renda do município e promover o crescimento do núcleo urbano.
“Por sua conta corre 80% da existência dos estabelecimentos de ensino e comércio.” (Jornal Cataguases, 02.08.1936)
Cataguases atinge notável prosperidade.
Há ainda a possibilidade de uma nova fábrica de tecidos. Irmãos Peixoto já estão em entendimento com diretores da sociedade fabril do Rio de Janeiro para instalar a nova fábrica, “demonstrando seu amor por Cataguases”. (Jornal Cataguases, 02.08.1936)
A atmosfera é de entusiasmo. O trabalho será abundante: pedreiros, carpinteiros, tecelões... A renda da municipalidade se elevará, permitindo aparelhar-se com mais eficiência para a assistência racional, as lavouras algodoeiras terão mercado seguro. É a fomentação da vida econômica da cidade e região.
A contribuição da indústria no desenvolvimento urbano é enorme: é um elemento que agita, renova e cria. Trabalhadores de picareta em punho, felizes, carpinteiros e pedreiros sorridentes levantando novos prédios, reconstruindo ou melhorando os já existentes. “Homens rudes, no trabalho pesado, mas trabalhando com alegria, cantando o mesmo hino de louvor que todas as classes sociais...” (Jornal Cataguases, 27.09.1936)
A cidade foi convertida em uma grande oficina de trabalho.
O desenvolvimento econômico de Cataguases se deve aos seus trabalhos e empreendimento. São eles, a principal alavanca do progresso da cidade, trazendo melhoramentos, empresas e empregos. Empresários, bons administradores, são capazes de “fazer na administração pública aquilo que eles fizeram na administração de seus bens particulares.” (Processo Crime, 1948. P.8 CDH)
Essa imagem de “homens de progresso”, através da qual Manoel Peixoto e seus irmãos se representavam, interveio eficazmente no imaginário coletivo, sendo interiorizada pela população local, que ainda hoje os vê assim: como empreendedores, progressistas e responsáveis pelo desenvolvimento da cidade.
Mais uma vez, podemos comprovar a força das representações e a sua eficácia sobre o imaginário popular.
Foto: Manoel Inácio Peixoto - Acervo: https://www.camara.leg.br/deputados/3100/biografia - sem referência de data
Fonte: A disputa de grupos familiares pelo poder local na cidade de Cataguases – práticas, representação e memória.
Dissertação de mestrado apresentada ao Programa de Pós-Graduação em História da Universidade Federal de Minas Gerais, pela Professora e Mestre em História, Odete Valverde Oliveira Almeida.