O projeto de se estabelecer um hospital permanente em Cataguases aconteceu com a chegada na cidade de um emigrado judeu, no ano de 1893, José Gustavo Cohen. Vidraceiro de profissão, desembarcou no município quando esse se debatia contra a terrível febre amarela.
Embora economicamente no apogeu do período cafeeiro, a cidade carecia de instituição hospitalar condizente, dispondo apenas de enfermarias improvisadas pela municipalidade para atendimentos a indigentes.
Durante cinco anos, Jose Gustavo Cohen trabalhou arduamente para convencer as autoridades locais sobre a necessidade de se fundar um Hospital de Caridade. Assim, em 05 de abri de 1898, Cohen consegue fundar, junto com outros 32 abnegados, a associação beneficente denominada Assistência Humanitária 33 de Cataguases.
O projeto de Jose Gustavo Cohen enfrentou vários reveses, principalmente por conta das autoridades que pareciam desconfiar de suas intenções. A Câmara de Vereadores rejeitou no ano de 1898 o projeto de lei que concedia o funcionamento de uma Hospital de Caridade; no ano seguinte rejeitou uma petição feita pela Assistência Humanitária 33 de Cataguases, que solicitava à Câmara uma intervenção junto ao Congresso Legislativo Estadual, para a criação de uma loteria em benefício do Hospital de Caridade. (Câmara dos Vereadores de Cataguases. Ata, 1898-99).
Todavia, essa associação não possuía condições financeiras para colocar em funcionamento o hospital. Parte do problema foi solucionado quando a Assistência Humanitária 33 de Cataguases recebeu o espólio da antiga Associação Providência Doméstica, que permitiu a abertura do Hospital de Caridade, em 1899.
Mais difícil do que erigir o hospital, foi manter suas atividades. Na tentativa de dar continuidade ao seu funcionamento, foi criada uma outra associação, a Promotora de Caridade, encarregada de angariar fundos para o trabalho regular da casa de saúde. Essa associação não conseguiu recursos suficientes para que o hospital se capacitasse a funcionar regularmente.
Diante desse impasse, em 1910, um ano após sua inauguração, Jose Gustavo Cohen decidiu passar o controle da instituição edificada por ele, para o jurista local Heitor de Souza. Cohen parecia acreditar que o prestígio de Heitor de Souza junto às autoridades municipais e estaduais, seria suficiente para solucionar os problemas financeiros, assegurando assim o prosseguimento de seu sonhado hospital.
As obras de Jose Gustavo Cohen não se encerram aí. No mesmo dia em que passou o controle do Hospital Casa de Caridade para Heitor de Souza, Cohen fundou uma nova associação, a Assistência Humanitária Cataguasense, e recebeu um prédio municipal na Rua Coronel Vieira, onde foi instalado um Hospital de Isolamento para tuberculosos. Esse prédio foi adquirido pela Câmara de Vereadores de Cataguases para servir de hospedaria para imigrantes. Entretanto, antes de ser usado como dispensário para tuberculosos, a Câmara de Vereadores já havia negado uma petição de Fortunato Gomes da Silva e outros, que pediam em nome de uma corporação, o uso desse prédio para a instalação de uma "casa de saúde com a denominação de Santa Casa de Misericórdia de Cataguases". Os vereadores alegaram em sua negativa, falta de clareza do parecer expedido pela Comissão de Saúde Pública (Câmara de Vereadores. Ata, 1896).
Gustavo Cohen, porém, era um elemento que não podia ficar inativo, e na mesma data em que entregou a direção do hospital, fundou a Assistência Humanitária, a que deu por fim principal a criação do Asilo Nossa Senhora das Dores, para abrigo da infância desamparada, ao qual deu início assentando a pedra fundamental no dia 15 de agosto de 1902.
Em 1904, as sociedades beneficentes, Assistência Humanitária 33 de Cataguases e Assistência Humanitária Cataguasense, transformaram-se em uma só, sob o nome de Ação Beneficente de Cataguases. Após fazer algumas adaptações, a nova entidade abrigou o Hospital de Cataguases, em caráter definitivo, no prédio onde funcionava o dispensário para tuberculosos, na Rua Coronel Vieira.
Em 26 de fevereiro de 1905, com grande solenidade, discursos e banda de música, a Associação Beneficente, em cuja presidência continuava o Dr. Heitor de Souza, promoveu a instalação do novo prédio do Hospital de Caridade com todas as acomodações apropriadas. Proporcionando um atendimento maior à população, o hospital passou a ter também a figura de um administrador, chamado de provedor.
Durante os primeiros 22 meses em que o Hospital de Caridade funcionou sob a direção de Jose Gustavo Cohen, Dr. Francisco Alpheu Cavalcante de Albuquerque foi o médico atendente. De sua atuação, pode-se afirmar que foi o braço direito de Cohen nesta pioneira obra de caridade a que seu nome ficará ligado para sempre, na memória desta cidade, na qual residiu de 1892 a 1903.
Jose Gustavo Cohen veio a falecer na cidade do Rio de Janeiro, no dia 31 de maio de 1910, aos 62 anos de idade, viúvo e sem deixar filhos. Seu falecimento foi noticiado no Jornal O Cataguases do dia 05 de junho de 1910, que reservou uma coluna inteira na primeira página, lembrando seus serviços humanitários realizados na cidade. O semanário informou ainda que Cohen havia recebido o título de sócio benemérito da Promotoria de Caridade quando se afastou da direção do hospital e mudou-se para o Rio de Janeiro.
Sua morte também foi comunicada pelo jornal O Paíz na edição de 04 de junho de 1910. O artigo desse jornal relatou os serviços prestados por Cohen em Cataguases, informando ainda que o mesmo depois de muito trabalho, “conseguiu montar a sinagoga na Rua Senhor dos Passos, 51, onde exerceu as funções de rabino e conselheiro de sua congregação, vindo a falecer no interior do seu templo.
Um outro jornal carioca, A Gazeta de Notícias, no dia 1° de junho mencionou o nome da congregação a qual fazia parte Jose Gustavo Cohen, Associação Filhos de Israel, e enfatizou o “vasto círculo de relações, mesmo entre os não professos do isrraelismo, graças às manifestações filantrópicas de sua grande alma”.
Dirigentes do Hospital de Caridade
Período: 05.04.1899 a 10.02.1901
Jose Gustavo Cohen - Presidente da Assistência Humanitária 33
Dr. Francisco Alpheu Cavalcante de Albuquerque - Diretor Provedor
Período: fevereiro a dezembro de 1901
Dr. Heitor de Souza - Presidente da Associação Beneficente, mantenedora do Hospital da Caridade
Dr. Francisco Alpheu Cavalcante de Albuquerque - Diretor Provedor
Período: 1902
Dr. Pio Marques Ventania - Presidente da Associação Beneficente, mantenedora do Hospital da Caridade
Dr. Francisco Alpheu Cavalcante de Albuquerque - Diretor Provedor
Período: 1903 a 1904
Dr. Heitor de Souza - Presidente da Associação Beneficente, mantenedora do Hospital da Caridade
Dr. Francisco Alpheu Cavalcante de Albuquerque - Diretor Provedor
Período: maio de 1904 a fevereiro 1905
Dr. Heitor de Souza - Presidente da Associação Beneficente, mantenedora do Hospital da Caridade
Dr. Francisco Alpheu Cavalcante de Albuquerque - Diretor Provedor
Período: 1906 - conforme jornal de 04 de fevereiro de 1906
Joaquim Ferreira Campos - Presidente da Associação Beneficente, mantenedora do Hospital da Caridade
Arthur Vieira de Rezende e Silva - Vice Presidente
Major Antenor de Araújo Freitas - Provedor
Tenente Jose de Almeida Kneipp - Secretário
Dr. Pio Marques Ventania - Médico Atendente
Período: 1907
Joaquim Ferreira Campos - Presidente da Associação Beneficente, até julho
Dr. Heitor de Souza - Presidente da Associação Beneficente, até dezembro
Antonio Henriques Felippe - Vice Presidente
Manoel Joaquim Taveira Júnior - Provedor
Arthur Vieira de Rezende e Silva - Suplente de Provedor
Período: 1908
Dr. Heitor de Souza - Presidente da Associação Beneficente
Antonio Henriques Felippe - Vice Presidente
Manoel Joaquim Taveira Júnior - Provedor
Arthur Vieira de Rezende e Silva - Suplente
Período: 1909 a 1910
Dr. Heitor de Souza - Reeleito Presidente da Associação Beneficente
Dr. Navantino Santos - Vice Presidente
Jose Schettini - Provedor
Jose Venâncio de Souza - Suplente
Jose de Almeida Kneipp - Secretário
Período: 1911
Dr. Gabriel Junqueira Botelho - Presidente da Associação Beneficente
Joaquim de Souza carvalho - Vice Presidente
J.J. Rodrigues dos Santos - Provedor
Gustavo A. Panvel - Suplente
Período: julho a dezembro de 1911
Dr. Navantino Santos - Presidente da Associação Beneficente
Dr. Joaquim Henrique da Matta - Vice Presidente
Jose Francisco Mendes - Tesoureiro
Jose de Almeida Kneipp - Secretário
Dr. Gabriel Junqueira Botelho - Provedor
Gustavo A. Panvel - Suplente
Período: 1912 - conforme Jornal de 07 de janeiro de 1912
Lindolfo de Almeida Campos - Presidente da Associação Beneficente
Eurico da Cunha Rabelo - Vice Presidente
Jose Francisco Mendes - Provedor
Jose Ignacio da Silveira - Suplente
Período: 1913 - conforme Jornal de 14 de dezembro de 1913
João Duarte Ferreira - Presidente da Associação Beneficente
Manoel Marques Almeida - Vice Presidente
Jose Schettini - Primeiro Provedor
Arthur Rocha - Segundo Provedor
Período: 1914
João Duarte Ferreira - Presidente da Associação Beneficente
M. J. Taveira Júnior - Suplente
Jose Schettini - Provedor
Arthur Rocha - Vice Presidente
Período: 1915
João Duarte Ferreira - Presidente da Associação Beneficente
Manoel Marques Almeida - Vice Presidente
Jose Schettini - Primeiro Provedor
Arthur Rocha - Segundo Provedor
Período: 1916
João Duarte Ferreira - Presidente da Associação Beneficente
Abílio Cesar Novaes - Vice Presidente
Manoel Marques Almeida - Vice Presidente
Jose Schettini - Primeiro Provedor
Arthur Rocha - Segundo Provedor
Período: 1917
João Duarte Ferreira - Presidente da Associação Beneficente
Abílio Cesar Novais - Vice Presidente
Caetano Mauro - Provedor
Francisco do Carmo Costa Carvalho - Suplente
Período: 1918
João Duarte Ferreira - Presidente da Associação Beneficente
Abílio Cesar Novais - Vice Presidente
Caetano Mauro - Provedor
Jose de Almeida Kneipp - Suplente
.... continua
Fonte: Epidemias e Urbanização: surtos de febre amarela na Cataguases oitocentista. Mestre em Saúde Coletiva, da Universidade Federal do Rio de Janeiro. Área de Concentração: Ciência Humanas e Saúde/História e Saúde, 2005 – Alen Batista Henriques – acervo Instituto Francisca do Souza Peixoto – Cataguases MG.
Cataguases - História dos Hospitais e os médicos cataguasenses - 1ª edição - Moreira, Fernando Ciribelli, 2021
Criação e Desenvolvimento
Welington Carvalho