Foto 1: Coronel João Duarte Ferreira
Foto 2: Dona Catarina, Alberto Landóes 1915, acervo DEMPHAC
Foto 3: Chácara Dona Catarina, Alberto Landóes, 1915, acervo DEMPHAC
Foto 4: Interior da Chácara Dona Catarina, Alberto Landóes, 1915, acervo DEMPHAC
Erguida em 1888, a casa do Coronel João Duarte Ferreira – mais tarde conhecida como Chácara Dona Catarina – é um típico exemplar dos chalés românticos predominantes na arquitetura do último quartel do século XIX, comuns nas províncias fluminenses e mineiras que participaram do ciclo do café.
A moda era de sofisticados chalés livremente posicionados entre jardins, que respiravam elegância em meio à amplitude de seus espaços. Com o requintado entrelaçar de suas tramas ornamentais, os lambrequins rendilhados enriquecendo seus beirais, a casa do Coronel resplandecia na Cataguases fim do século – à semelhança de seus similares onde residiam os barões do café.
O Coronel, Catarina e sua Chácara estão indissoluvelmente entrelaçados à história de Cataguases – tanto em termos econômicos como afetivos. A exemplo dos demais imigrantes da época, o português João Duarte Ferreira (1850-1924) veio para Cataguases como trabalhador da Estrada de Ferro Leopoldina, que aos poucos plantava seus dormentes pela Mata mineira afora.
Com grande queda para os negócios, o futuro Coronel se sobressai como plantador de café e deixa entrever suas facetas de hábil comerciante – dono do Engenho Central de Cataguazes, onde processava café e arroz, e da grande Serraria Mecânica. Financista de sucesso, João Duarte cria no final do século XIX o Banco de Cataguazes, que funcionava no prédio ocupado pelo Grande Hotel Villas.
Percebendo as necessidades geradas pelo crescimento do município, em 1905 o Coronel João Duarte junta-se a Norberto Custódio Ferreira e a José Monteiro Ribeiro Junqueira para fundar a Companhia Força e Luz Cataguazes-Leopoldina, viabilizando assim o suprimento de energia às indústrias que nasciam na cidade.
Na política, João Duarte Ferreira foi intendente da Junta nomeada pelo presidente de Minas Gerais, vereador de sucessivas legislaturas, presidente da Câmara e agente-executivo do município por vários períodos entre 1911 e 1923. Cataguases cresceu junto com o Coronel, que aqui viveu durante 50 anos e direcionou os destinos da cidade num período fundamental para a sua formação econômica.
Fronteiriça à Estação Ferroviária, no coração econômico da cidade, a localização de sua residência era mais do que estratégia – ali estava também o cinturão de seus interesses: o Engenho Central, a Serraria e principalmente o Banco onde, corria a boca não muito pequena, o Coronel negociava a cash grandes partidas de café. De sua chácara, ele dava intensidade aos seus interesses que eram também os interesses de todo o município. Ele dava vida à vida da cidade.
Numa de suas viagens à Europa, durante um período de graves turbulências conjugais, João Duarte conhece na Itália a jovem Catarina Zauza (1882-1961), com quem começa um romance que iria durar até o final de sua vida. Logo depois, o Coronel traz Catarina para residir na Chácara que ela tornaria famosa em Cataguases.
Mulher elegante e viajada, mantinha-se em sintonia com as últimas novidades europeias. Católica, gostava de ouvir programas religiosos pelo rádio, como também de crochê, de música e dos muitos animais que viviam em sua propriedade: gato, cachorro, coelho, pássaros. Mas Catarina Zauza, que depois iria incorporar o “Duarte” do Coronel, gostava mesmo era de gente, da convivência cotidiana, de seu extenso círculo de amizades.
Nos tempos de Dona Catarina, a Chácara era um permanente open Garden, com artistas, amigos e convidados num infindável vaivém em seus jardins e dependências. Palco de festas de saraus, cenário de casamentos, chás e domingueiras dançantes – puro glamour. Exatamente como ela voltou a ser neste novo milênio – um toque de cultura e elegância em pleno coração de Cataguases: de início um museu, agora Biblioteca Municipal Ascânio Lopes, um dos ases da revista Verde dos anos 1920 – que lançou o nome de Cataguases nos meios literários nacionais.
Fonte: Ronaldo Werneck – Cataguases – Século XX Antes & Depois, Editora Tipografia Musical, São Paulo, 2021 – O Coronel/a Chácara/Dona Catarina – pág. 50
Editora Chefe: Karla Valverde
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Welington Carvalho