Pedro Dutra sobre Manoel Peixoto

A luta ultrapassou o campo eleitoral em Cataguases e se efetuou também na esfera das representações e dos discursos. Isso quer dizer que se Pedro Dutra construiu uma imagem de si mesmo, obviamente positiva, por outro lado, construiu uma imagem oposta de seu adversário (Manoel Peixoto), obviamente negativa.


Todas as qualidades que toma para si, endereça o seu oposto aos seus contendores, numa espécie de dialética constante. Sendo assim, caracteriza seus adversários políticos como caluniadores, mentirosos, invejosos, covardes, injustos, pequenos, medíocres, difamadores, corruptos, prepotentes, desleais, traidores, oportunistas, falsos, perseguidores, egoístas e mesquinhos. Vivem de apropriações indébitas e estelionatos. Honra e honestidade é coisa que não conhecem.


Se ele é democrata, seus adversários são autoritários, exercem perseguição política e atos de violência e arbitrariedade. Suas campanhas eleitorais são sórdidas e criminosas. Querem obter voto por meio do dinheiro e da coação do operariado, que é guiado para o pleito como gado manso para o matadouro.


Manoel Peixoto baixou um edital em sua fábrica ameaçando os operários de expulsão caso não votem em seus candidatos. “A pobreza ameaçada pela fome, sem conhecimento exato de seus direitos, teve que sofrer as arbitrariedades do regulo que assim atingia aquilo que mais deveria merecer o respeito sagrado: a liberdade do voto.” (Jornal Cataguases, 07.10.1934)


Se Pedro Dutra é um defensor da lei, seus opositores agem na ilegalidade. Ao contrário dele, são desleais: traíram a Aliança Liberal e a Olegário Maciel (um dos líderes da Revolução de 1930 que conduziu Getúlio Vargas ao poder no Brasil) combateram ao lado de Washington Luís (13º Presidente do Brasil na República Velha), aplaudiram e ajudaram a revolução de São Paulo. Não sabem o que é lealdade política. Têm sido tudo: prestistas, melovianistas, bernardistas, intentonistas, oligaristas, paulistas, beneditistas, carlistas, oportunistas. “Estão na encruzilhada da política do estado para verem a quem vão aderir.” (Jornal Cataguases, 05.08.1934)


Pedro Dutra lança ainda um desafio: “Manoel Peixoto, apresente a folha de serviços prestados ao partido onde militas há poucos meses (...) Não envergonhes a terra de Astolfo Dutra.” (Jornal Cataguases, 07.10.1934)


Ele, defensor dos trabalhadores, seus adversários, exploradores dos operários, caudilhos, coronéis, que demitem os operários que não rezam na sua cartilha. Escravizadores que sustentam a pobreza cataguasense. Desrespeitam as leis trabalhistas e os direitos dos trabalhadores. Os operários jamais conheceram um gesto de generosidade por parte de Manoel Peixoto ou mesmo o cumprimento da assistência social.


Mas, o maior ataque de Pedro Dutra aos seus adversários políticos situa-se no campo do público e privado. Enquanto ele é o grande defensor do bem público, seus opositores, numa atitude mesquinha e egoísta, visando apenas seus interesses particulares, solapam o patrimônio público e usurpam os cofres municipais sem cerimônia. Visando apenas caprichos ou interesses pessoais, criam dificuldades e embargos ao bem público. Magnatas, ricos, industriais, vivem sob o alento de grandes lucros e criam empecilhos ao progresso que a todos beneficia. Donos de bancos, tiveram oportunidade de auxiliar a lavoura por meio de empréstimos a longo prazo e por juros módicos e nunca o fizeram. Não possuem princípios e são alheios aos interesses da comunhão. Egoístas, giram em torno de seus teares amontoando imensa fortuna. Efetuaram negócios escusos e transações financeiras ilegais e escandalosas com a prefeitura em gestões anteriores, tendo lucro de mais de 50% em prejuízo para os cofres municipais. Sempre instrumentalizaram o poder público para atender aos seus interesses particulares: isenção de impostos, construções e reformas de prédios a seu bel prazer, sem a prévia licença da prefeitura, enfim, utilizaram o poder público em favor de suas ambições privadas para enriquecer ainda mais às custas do erário público municipal. “Irmãos Peixoto e Cia. gozavam de privilégios e regalias que constituíam uma gritante injustiça aos demais proprietários da cidade, pois não pagavam as taxas d’água e remoção de lixo sobre 30 prédios nesta cidade.” (Processo de Ação Possessória, 1932. P.189 CDH).


Pretensiosos homens de negócio, supõem que o seu dinheiro paira sobre os altos interesses do povo. Pedro Dutra, como cumpridor da lei e guardião do patrimônio público, pôs fim a esses privilégios que alguns industriais gozavam. “Aqui estamos com a lei, a justiça e a moral para impedir o seu avanço ao patrimônio do povo.” (Processo de Ação Possessória, 1932. P.182. CDH).


Foto: Pedro Dutra - Acervo Público - sem referência de data


Fonte: A disputa de grupos familiares pelo poder local na cidade de Cataguases – práticas, representação e memória

Dissertação de mestrado apresentada ao Programa de Pós-Graduação em História da Universidade Federal de Minas Gerais, pela Professora e Mestre em História, Odete Valverde Oliveira Almeida.

 

 


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